Traduzido por Patricia Paiva
Os alunos que participam das conversas sobre Dharma semanalmente (ou quem eu encontro regulamente fora delas) são geralmente confrontados com minha insistência para olharem o mundo de um jeito mais holístico. Isto é tipicamente estimulado em um ou mais encontros nos quais é dito que uma perspectiva “da grande imagem” é boa filosofia, mas geralmente tem pouca relevância para o sofrimento pessoal de alguém. “Como a estrutura do universo ou do que está acontecendo ao redor do mundo em algum lugar longe têm a ver comigo ou com minha situação? A resposta é obvia e simples, mas sua simplicidade leva as pessoas a terem a resposta como muito simples e assim, não aceitável. Mas a verdade é: quando a visão de alguém é pequena, os pequenos problemas da vida se tornam muito significantes, e quando a visão de mundo é grande, mesmos os problemas grandes da vida se tornam triviais. Temos a opção de escolher os dois caminhos, e como responder ou sentir está baseado na perspectiva que escolhemos ter.
Minhas conversas são vistas como viagens bonitas que falam de coisas vastas e tópicos que parecem abrangentes ou irrelevantes como as galáxias que uso como exemplos. Mas na verdade, os princípios que parecem vastos ou abrangentes, são os mais relevantes. Uma vez que uma pessoa reconhece isto e começa a notar o mundo desta perspectiva da “grande imagem”, ele ou ela irá notar que minúcias da vida cotidiana são completamente insignificantes. Descobrimos que a questão real é que levamos nossos problemas e a nós mesmos muito a sério, e que se nós começarmos a olhar para “um cenário maior”, a mesma vida se torna muito menos complicada.
Em meu trabalho como artesão, eu geralmente cometo muitos erros em qualquer projeto. A cada erro, eu amaldiçôo e começo a me preocupar como vou lidar com uma mancha tão obvia. Um corte aqui, um arranhão aqui, acidentalmente pintar sobre a linha e esquecer-se de limpar a cola… tudo parece um grande erro durante o processo, mas quando o barco está pronto, onde estão os erros? Cada iate bonito pode ser visto como uma obra de arte, ou um agregado de vários erros. Nossas vidas não são muito diferentes-nós podemos nos ver e as situações da nossa vida como “um agregado de vários erros” ou uma obra de arte de um artesão biológico. Tudo depende de quão perto você olha para o quadro.
O quadro acima, intitulado Domingo a tarde na ilha de La Grande Jatte, foi pintado em um período de dois anos (1884-1886) pelo artista francês George-Pierre Seurat. O quadro tem dez pés de largura e foi pintado totalmente com pequenos pontos aplicados um a um com um pincel de detalhes pontiagudo. Esta técnica, que era conhecida como Pontilhismo, é basicamente como todas as ilustrações e publicações fotográficas são impressas hoje. Impressoras modernas (e até o monitor do seu computador) usam a mesma técnica para apresentar a imagem que você vê.
Neste quadro-não há misturas ou campos sólidos de cor- só pontos! Pontos de cores primárias que são estrategicamente colocados para produzir o efeito geral de uma só imagem. Então, onde estão os erros? Com certeza se você olhar mais próximo, você pode vê-los. Um ponto vermelho no lugar do amarelo, ou pontos que estão muito próximos ou mesmo se tocando acidentalmente. Seraut era tão humano quanto qualquer um de nós e provavelmente lamentava pelos pontos que não ficavam certos na tela como ele previu. Quantos ele limpou ou pintou por cima com uma cor alternativa? Ou quantos “tudo bem” foram ditos e ele continuou. Com certeza, num quadro de seis por dez metros com mais de 864 mil pontos, deve ter incontáveis erros de posição e/ou de seleção de cor. Mas quando o quadro foi feito, ele instantaneamente tornou-se uma obra de arte impressionista atemporal. Como isto aconteceu?
A resposta é simples: os princípios abrangentes têm mais significado para a “grande imagem” do que qualquer evento individual. Na visão geral, as leis de probabilidade e estatística prevalecem. De primeira, parece ser impessoal sugerir a existência de um universo que não se importa e é frio, mas na realidade, o oposto tem provado ser real. Todo o sistema físico- da grande escala do universo, até o campo de física quântica- tem provado ser exatamente o que é necessário para nossa existência humana e sobrevivência. Isto inclui nossas habilidades para raciocinar, usar pensamento abstrato, fazer arte e ter sentimentos de amor e compaixão.
Tipicamente a maior parte do que causa nossa angustia mental está em olhar para a nossa situação do ponto de vista errado. Somos famosos por olhar para as coisas bem de perto e levar tudo para o lado pessoal, quando em uma perspective mais ampla, pode nos mostrar, não só uma imagem mais clara, como diminuir nossa ansiedade pessoal. Se fossemos nos aproximar do quadro “Um domingo à tarde na Ilha La Grande Jatte”, e fixássemos nosso olhar muito próximo da tela, veríamos uma bagunça! Pontos com cores fora de ordem, tamanho e lugar espalhado de qualquer forma sem aparente ritmo ou razão. Quem poderia chamá-lo de arte? Mas dê um passo atrás e veja que tudo faz perfeito sentido. Da perspectiva e escalas corretas, não só faz sentido, mas se torna agradável de olhar. Torna-se arte representando a vida.
Esta obra de arte representando a vida, não só mostra uma foto de um dia no parque, mas também um exemplo de como pontos desconexos podem fazer uma foto completa. Nosso universo é estruturado exatamente assim. Átomos, que são feitos de partículas desconexas fazem as moléculas, que são partículas desconexas e se tornam estrelas e galáxias que estão também desconexas e vastamente separadas. Estes “pontos” no espaço e no tempo, e em cada escala mostram que as coisas olhadas de perto podem estar fora de ordem ou desconexas. Elas estão, na verdade, conectadas pelo espaço ou tempo e todas fazem parte da “grande imagem”.
Nossas vidas, vividas em uma escala humana, não são diferentes- tudo visto de perto parece estar independente e desconectado, mas de uma perspective diferente, nossas vidas se tornam uma continuidade obvia. A aparência de cada um de nós como indivíduos separados não é menos real que a aparência dos átomos individuais quando olhados de uma alta ampliação, mas tire o microscópio e como se parece? A multiplicidade de átomos se torna em um objeto único em uma escala larga. Como os átomos, cada um tem seu próprio “espaço” e nós nos vemos como entidades independentes, mas de uma perspectiva biológica e social, nós somos uma parte simples de um grupo maior, que faz parte de outro grupo maior.
Enquanto limitarmos nosso entendimento de quem nós somos no nosso próprio “espaço”, vemos tudo ao nosso redor como algo além de nós; mas logo que começamos a perceber que as outras coisas nos sustentam, começamos a ver o estado ilusório da imagem singular da nossa existência. Começando pelo ar que respiramos e a água que bebemos, nós reconhecemos que nós somos totalmente dependentes da existência de “outras coisas”. A maçã que nós comemos para o almoço não é algo separado de nós mesmos, mas da mesma matéria da qual somos feitos. Entretanto, pode soar como um “chavão” quando falamos de nosso físico, mas na verdade somos o que comemos.
Geneticamente, somos uma mistura mágica de componentes herdados de nossos ancestrais que se tornaram totais estranhos cognitivos depois de apenas algumas gerações. Não nos vemos como a continuidade deles, imagina ser a continuidade da raça “humana” inteira, ou dos mamíferos chamados “primatas”. Todo que é tão chamado de “individuo” representa um ponto no mural de nossa existência- de perto vemos todos separados, mas de um passo para trás e eles são uma porção da grande imagem. Quando o quebra-cabeça biológico estiver finalmente pronto, entenderemos o que John Muit queria dizer com a frase: “ Quando tentamos pegar algo, descobrimos que está preso em tudo o que está no universo”.
Depois de dito tudo isto, há aqueles que ainda perguntarão: “Parece tudo certo, mas o que tem a ver comigo e com a minha situação?”. Como aplicamos todo este idealismo bonito ou estas trivialidades cientificas a situações da vida real? Como aceitar teorias amplas da existência para nos ajudar a aliviar nosso sofrimento? A razão pela qual estas questões permanecem é porque elas falharam em dar um passo atrás e olhar para a grande imagem. Se ainda olhar a imagem de perto, verá uma bagunça; objetos espalhados de qualquer forma sem conexão e coisas que não têm nada a ver com as outras.
Todos nós já vimos isto em outras pessoas-amigos e família que não querem ver sua situação como impostas por eles mesmos que os limitam. Suas atitudes sobre e relacionamentos com família, amigos, pessoas, trabalho, comida, drogas, política e meio-ambiente pintam uma imagem clara de porque elas vêem suas vidas como injustas. Entretanto, sua negação em ver a grande imagem leva, de alguma forma, a se verem desconectadas da comoção. Nós dizemos: “Elas são seu próprio pior inimigo”.
E sobre nós? Quem é o causador de nossa dor? Somos nós nosso pior inimigo? Se sim, qual é a causa? De uma perspectiva abrangente, vemos os problemas de nossos amigos como óbvios e impostos por eles mesmos, mas do meio do nosso próprio furacão, nós sofremos da mesma falta de perspectiva. Ao invés de olharmos nossa situação de um contexto holístico, só nos vemos separados e sofrendo. Nos vemos fora do universo como um ponto fora de lugar, onde tudo está como deve estar.
Para mudar esta situação, o que precisamos é dar um passo atrás e olhar nossas vidas de uma perspectiva diferente. Isto requer olhar para nós mesmos de longe, como fazemos quando olhamos os outros e seus problemas. Não é fácil, pois temos a tendência de levarmos nossas vidas de um jeito subjetivo e confinado em nossa perspectiva pessoal. Porém, a verdade é que temos a capacidade de olhar nossa própria situação de uma forma mais holística. Nós olhamos para nossas vidas como se fossemos alguém que conhecemos e não quem realmente somos. Por um lado, quando olhamos a grande imagem, descobriremos que nós estamos geralmente no meio do diagrama, olhando de quase todas as formas. Geralmente descobrimos que, globalmente, nós não somos melhores ou piores que as pessoas que conhecemos e nos comparamos. Descobrimos que nossas deficiências são geralmente parecidas com as diferentes deficiências dos outros.
Novamente, isto pode ser observado em escalas diferentes e vistas em uma perspective holística. Se quisermos comparar nossas vidas com a dos outros, devemos olhar para a imagem de um jeito abrangente- não só de nossa situação atual-e trabalhar usando exemplos dos “outros”- não só de uma pessoa particular que escolhemos como um padrão arbitrário. Por exemplo: se você pertencer à “Classe média dos trabalhadores americanos”, suas comparações devem ser de todos os da “Classe média dos trabalhadores americanos”. Não só da metade do topo, não do meio, mas do todo. Este exemplo deve também considerar todas as condições através dos tempos e talvez de toda uma vida. Por exemplo- você pode estar desempregado agora, então seus exemplos devem incluir o entendimento de que quase todos deste grupo tenham provavelmente ficados desempregados uma vez em suas vidas.
Mas, se esta escala não está boa para você, dê um passo à frente. Como sua vida se compara com os sete bilhões de pessoas? Tenha em mente que estas sugestões são só exemplos; a escala atual que você selecionou pode ser a correta ou não. Contudo, se você achar que se dá bem com qualquer exemplo da curva da escala, as coisas devem estar no lugar certo. Por exemplo, selecione um ponto no quadro de Seurat e diga que este é seu ponto na grande imagem. Como se compara com os outros pontos? Maior que os outros, menor, mais redondos que alguns, mais irregular, amarelo ao invés de azul, mas o mesmo amarelo que os outros pontos amarelos- está melhor ou pior que qualquer ponto na tela? Esta comparação com os pontos no quadro não é para diminuir ou apagar nossa existência, mas para mostrar que nossas preocupações são triviais quando ligadas a “grande imagem” de nossas vidas.
Como qualquer um, minha vida está cheia de altos e baixos. Eu tive minha parte de perdas e ganhos, tempos bons e ruins, longos períodos de boa saúde e muito tempo passando mal, tempos de terror e tempos de alegria absoluta. Então falando da minha própria vida (toda ela) em uma escala, qual é a pontuação depois de 50 ou 60 anos? Bem, estou aqui e vivendo minha vida enquanto der. A vida em geral é boa apesar das coisas negativas que mencionei na primeira parte do artigo. Quando vejo minha vida como uma pintura, os pontos que representam problemas de saúde parecem triviais. Quando eu comparo minha vida com o grande número de pessoas que conheço no meu perfil demográfico, eu acho que estou bem melhor do que eu pensava. Quando me comparo com homens de meia idade do mundo inteiro, eu vejo que a vida não poderia estar melhor. Então eu me pergunto- por que tanto barulho?
Eu descobri que olhar para grande imagem e olhar para minha situação mais objetivamente possível, eu posso me distanciar do meu ponto de vista limitado e ver as coisas de uma perspectiva larga. Quanto mais eu faço isto, melhor eu fico. De fato, eu olho de forma holística imediatamente escapo das perguntas “por que eu? ou “coitadinho”. Algumas vezes quando eu vejo que está tudo dando errado, comparo minha vida com uma comédia de palhaçada e dou risada. A improbabilidade de tudo estar indo errado é, ao mesmo tempo, engraçada. E então eu me lembro das vezes quando tudo ia perfeitamente bem e mesmo quando tudo estava contra mim e eu dou risada de novo.
Indiferentemente de como nos sentimos em certo momento, se fossemos considerar este tempo um ponto no quadro, como seria comparado? Se o quadro de nossas vidas fosse pintado de pontos azuis quando estamos tristes, vermelhos quando estamos com raiva, amarelos alegres, verdes com saúde, violetas quando doentes etc., que cores predominariam no quadro. Poderia os pontos verdes de saúde ser em maior quantidade que os pontos violetas de doenças? Poderia os pontos amarelos ser maiores que os azuis? Tenha em mente que “alegria” pode ser estar “ok” ou normal- é o que alegria significa na verdade: estar “ok” com o que está acontecendo.
Existe um termo usado por projetistas e meio ambientalistas que é o perfeito exemplo de viver a vida de uma perspectiva ampla: Pense globalmente, aja localmente. Pensar globalmente é pensar holisticamente. Atuar localmente é pensar/agir/viver desta perspectiva ampla da grande imagem. Todos de nós que temos esta filosofia no coração, descobrimos que o que nos faz sentir melhor sobre nós mesmos tem a ver com tópicos como economia e meio ambiente. Esta abordagem também funciona de uma perspective individual em qualquer escala. Podemos considerar nosso “globo” como o universo, o planeta, nossa esfera de influência, nosso período de vida- não faz diferença. Um exemplo disto pode ser onde consideramos estar nosso “globo” e comer bem; quando quisermos comer algo ( atuação local) ao invés de comer mal, escolhermos como uma comida saudável para preservar nossa saúde a longo tempo (pensar globalmente).
Se mantiver nossa perspectiva de pensar globalmente e atuar localmente como central para nossas mentes e aprender continuamente a aplicar esta lógica em nossas vidas, descobriremos que tudo ficará melhor com o tempo. Não só melhorará em atitudes e bem estar, mas ao nosso redor também. Se olharmos nosso ambiente físico como nosso planeta, a vizinhança, nosso trabalho não farão diferença real. Nosso ambiente é onde moramos e onde moramos é onde estamos não importando a escala que escolhemos.
Porém, se não pensarmos “globalmente”, descobriremos que “localmente” não se dará bem no percurso. Temos que lembrar que em qualquer escala, independente para o que olhamos, é só uma parte da escala e até aprendermos a ligar os pontos, continuaremos a sofrer com nossa perspectiva limitada (ignorância, por exemplo). O universo é um grande e nossa consciência reside no seu centro com tudo o que conhecemos sobre existência dentro desta infinita série de esferas concêntricas. Algumas esferas são tão pequenas que temos a tendência de duvidar de sua importância e outras tão grandes que não conseguimos compreender. Mas todas elas representam nosso ambiente pessoal, onde residem estes “pontos” vivos que respiram e que estão cientes da existência de casa um de nós e nos referimos como “eu”.